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segunda-feira, 10 de maio de 2010

KRISHNAMURTI

Havia paz à sombra do arvoredo, repleto de pássaros a cantar, a piar, a tagarelar e a ciscar incessantemente. os polidos galhos daquelas arvores impressionavam por seu tamanho descomunal , pela beleza de suas formas, cujas graças e beleza nos emocionavam até as lagrimas, extasiados perante o marailhoso espetáculo da terra. Uma arvore é o que existe de mais belo na natureza ; nem mesmo ao morrer deixa ela de ser bela, com seus galhos nuns, descorados pelo sol , investindo contra o céu e servindo de abrigo aos pássaros. A profunda cavidade de seu tronco servirá de abrigo para as corujas , e os alegres e ruidosos papagaios farão seus ninhos no alto de seu galho oco; virão também os pica-paus, com os penachos vermelhos, para perfurar seu tronco; é lógico que não faltarão os esquilos malhados, pulando de galho em galho, em sua incansável curiosidade; e uma águia branca e vermelha , pousada no topo daquela árvore inerte, estará observando a terra do alto de sua dignidade e solidão. Haverá inúmeras fomigas negras e vermelhas , cuja picada é dolorosa, subindo e descendo , apressadas , ao longo de seu tronco macio.


Mas, por enquanto , aquela arvore maravilhosa estava plena de vida e a sombra por ela projetada protegia-nos do sol abrasador; gostariamos de ali permanecer por longo tempo, atentos a tudo quanto vivia e morria dentro e fora de nós . Não podemos perceber o mundo exterior sem sermos imppelidos a vagar pelo mundo interior. Na verdade , o externo é o interno e o que está dentro está fora e é quase impossivel estabelecer uma dinstinção entre esses dois universos. Ao olharmos para aquela árvore esplendorosa já não sabíamos quem observava e o que observava e, logo em seguida, o observador deixava de existir. tudo vibrava tão intensamente que nada mais restava senão a vida, perante a morte definitiva do observador. Já não existia a linha divisória entre a árvore, os pássaros e aquele homem ali sentado sobre aquela terra tão fertil. Lá estava a virtude sem o pensamento e, portanto , ali havia ordem . Sem ser um estado permanente , a virtude vem de momento a momento, e com o sol do entardecer, surgiu aquela benção tão livre e despreocupada. Com a proximidade da noite, os pássaros se aquietaram e a natureza buscava o recolhimento. Também o cérebro, aquela coisa tão maravilhosa , sensivel e vital , tornava-se imóvel , limitando-se a observar , sem reagir , sem fixar , sem gravar, sem experimentar , porém extremamente lúcido e atento. Com aquela coisa abençoada vem a força demolidora do amor. Tudo isto são meras palavras, e como aquela árvore morta, apenas um símbolo daquilo que foi e que já não existe. A benção se foi , deixando a palavra para trás; e a palavra morta jamais poderá captar o movimento ágil e fugaz do nada . Mas é daquele vazio que brota a infinita pureza do amor. Como pode o cérebro captar o amor , ele que é tão ativo , tão sobrecarregado , tão saturado de saber e de experiencia? É preciso negar tudo para que o amor exista.

O hábito, ainda que covenniente, destrói a sensibilidade; com o hábito vem a sensação de segurança, que é uma barreira para a sensibilidade e a lucidez; mas, isto não quer dizer que o estado de insegurança seja sinonimo de plena consciencia. É incrivel a rtapidez com que o hábito se instala, dando origem ao prazer e à dor, bem como ao tédio e àquela coisa estranha chamada lazer. Habituamo-nos a trabalhar durante quarenta anos , após o que buscamos o lazer; ou, ao fim de um dia de trabalho, temos o lazer. Primeiro, é o habito do trabalho, depois , é a vez do lazer, que também se transforma em hábito. Se não houver sensibilidade, não haverá afeto nem aquela integridade, que não é a reação condicionada de uma existencia contraditória. O habito origina-se do pensamento, que está sempre em busca de segurança, ou de um estado permanente que nega a sensibilidade. A sensibilidade jamais causa sofrimento; este vem das diferentes formas de fuga.

Ser sensível é estar plenamente vivo, de onde nasce o amor. Mas, com sua astúcia , o pensamento ilude o individuo que busca, e essa ilusão em sí é um pensamento ; um pensmaneto não pode seguir outro pensamento. O que se percebe e vê é o florescimento do pensamento ; e tudo aquilo que desabrocha em liberdade tem um fim, morre sem deixar marcas.

Extraído do livro Diario de Krishnamurti --- Cultrix --- 1972

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